Que merda eu faço da minha vida agora

Muita coisa mudou desde o início do ano pra cá. Eu finalmente ter entregue meu TCC e encerrado minha faculdade talvez tenha sido a maior conquista do ano até então. Foi um processo difícil que durou mais de 6 meses, porque parece que tudo na minha vida acontecia para atrapalhar meu foco nele. Eu fiquei depressiva, meu pai e minha namorada tinham se fraturado, o término desse namoro também veio logo em seguida¹, o cigarro começou a afetar a saúde do meu pai definitivamente e tive que viver os piores dias da minha vida em casa, por conta de preconceito dos meus pais, principalmente da minha mãe. Mas veio aí, TCC nota 10 e o vazio existencial que vem depois de conquistar algo que você dedicou lágrimas, sangue e suor.

Esses problemas não vieram todos juntos, o que piora a sensação de que a vida não dá um descanso pra essa desgraçada que vos fala. Agora, com 24 anos, me vejo deitada no ringue, cheia de sangue e ainda precisando levantar para sobreviver mais um dos infinitos rounds que a vida me coloca. O que vem depois da formatura? Procurar trabalho e estudar pra concurso são as respostas mais fáceis, mas eu agora, pela primeira vez na eternidade, sinto que terminei uma das últimas coisas que eu devia à sociedade e a mim mesma. Parece que essa é a hora de começar a organizar minha vida para finalmente começar a viver de verdade e descobrir quem eu sou.

Acho que não passei por completo pelo processo da adolescência onde a gente desafia tudo para começarmos a construir nossa identidade. Eu não sai beijando na boca, briguei com meus pais ou fui para eventos sociais descobrir minha “tribo”, meus gostos, sexualidade e afins. Quando olho no espelho, eu vejo um quadro que foi pintado por outras pessoas, não por mim. E me frustra profundamente quando qualquer um fala para mim o que eu estou sentindo e o que eu quero sem sequer me perguntar nada. Porque você não me conhece! Quem me conhece? Nem eu me conheço! QUEM É VOCÊ PARA DIZER QUEM EU SOU!?!?


Meus pais com certeza ainda me veem como uma extensão deles mesmos. Minha mãe definitivamente, meu pai tem melhorado isso aos poucos com a terapia dele. Mas ainda sinto que vivo uma vida de adolescente, só que agora com todas as partes ruins da vida adulta.

Quando eu terminei meu namoro mais cedo esse ano, minha mãe cismou que eu era gay. Mesmo sabendo que desde 2020 ela sabe que eu atirava pros dois lados e isso resultando em porradas e ameaças de me expulsar de casa, ela tratou isso como se fosse uma novidade que destruiu o mundo dela. Ela sempre fez o mínimo para respeitar outras pessoas LGBT, então isso veio como uma surpresa quando aconteceu pela primeira vez. Mas eu ouvi uma frase bem familiar para muitos que é “…mas não o meu filho!”…………

Por que não eu? Você nem convive com essas outras pessoas e elas conseguem de você o que eu sempre tentei provar que eu mereço sem esforço algum. Eu joguei tanto da minha vida fora para me sentir valorizado, para ser alguém que vocês pudessem ter orgulho, mas tudo isso é jogado fora porque eu gosto de beijar homens de vez em quando? Eu viro menos do que uma pessoa, menos do que um filho, eu viro um problema. Ela parou de falar comigo quando ouviu minha terapia escondida e eu disse que era bissexual (de novo, por que isso seria novidade pra você?). Houve outros diversos desrespeitos sobre minha privacidade e minha pessoa. Mas um dia eu fiquei de saco cheio das apontações de dedo, dos choros de como se ela fosse a maior vítima do mundo e surtei.


“Se quiser me expulsar de casa, então expulsa logo ou me ajuda a ir embora. Assim, pelo menos a gente não precisa se olhar na cara e eu deixo de ser um problema pra você!”


Ela melhorou um pouco desde essa briga, mas nada nunca mais foi o mesmo, óbvio. Agora eu preciso, aos poucos, desconstruir essa visão de que eu não consigo me virar sozinha e dependo deles pra algo. Porque hoje eu tenho um emprego, diploma e conhecimento o suficiente pra sair de casa e não morrer ou me afundar em dívidas desnecessárias. Mas isso é agora, já cai e levantei desse ringue milhares de vezes. Uma hora, cansa. Eu já pensei e largar tudo e partir pra essa vida sozinha logo, com muitos riscos ainda, mas não mais impossível, só para poder finalmente descansar um pouco. Mesmo que o descanso seja apenas para algumas coisas, eu acho que eu ficaria bem mais feliz podendo ser quem eu sou sem limitações e com menos dinheiro, do que viver mais um dia neste inferno.


Eu só quero ter tempo para descansar de verdade dessa vez…


Eu nem falei sobre os outros problemas, como está sendo, aos poucos, me colocar no mundo de novo. Tentar ganhar alguma noção de quem eu sou de verdade. Talvez em um próximo texto, só esse aqui já foi mentalmente exaustivo de fazer. Tenho a intenção de me expressar mais, agora que tenho mais tempo. Sem promessas, mas talvez eu não demore mais de um mês para publicar outra coisa aqui.


¹ Se você estiver lendo isso, Tiffany, espero que esteja tudo bem. Os Goldens estão enormes! Parecem que eles cresceram 5 meses em duas semanas, estão lindinhos demais!