Minha relação com as histórias que eu vivo e consumo
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Recentemente eu tenho pensado muito sobre minha relação com as histórias que eu consumo. E é difícil definir uma constante que eu diria ser a minha favorita. Por exemplo, eu amo filmes de terror e já assisti vários, dos mais ridículos aos que me marcaram profundamente. Mas o meu filme favorito de todos os tempos oscila entre Os Incríveis e o conjunto de filmes do Spider-verse.
Claro, eu posso simplesmente argumentar que é possível gostar dos dois (porque é verdade) e seguir em frente com a vida. Mas em momentos difíceis da vida, que ultimamente tem sido mais recorrente, minha primeira válvula de escape é ficar imersa nas histórias que eu consumo. Pensar como é ser alguém naquele mundo e o que a história dos personagens significam para mim. E isso que me pega, histórias tem um peso muito grande para mim. Não sei se é isso que fez com que eu me apaixonasse pela área da comunicação social e tenha ser professora de história como plano B da vida. Ambos planos que pagam muito mal, diga-se de passagem. Mas histórias, texto ou imagem, são partes fundamentais do que compõe uma obra de arte.
A história contada, do autor e minha todas se mesclam em uma sopa interpretativa que, por muitas vezes, podem nem fazer sentido quando colocado em palavras. E se eu fosse metrificar os tipos de histórias que eu consumo, provavelmente eu me identifico mais com as histórias dolorosas enquanto consigo aproveitar e apreciar contos com finais felizes.
Não sei o objetivo desse texto, se você acha que tem algum, mas eu queria tentar explicar como parte do meu processo de se vivenciar arte. Panos voando majestosamente no Museu do Amanhã já me fizeram chorar por semanas e eu nunca soube explicar o porquê. Eu lembro da minha namorada da época ter ficado muito confusa com a minha reação, perguntando em preocupação se algo aconteceu, mas, igual agora, eu não soube explicar o que era.
Acredito que a maioria das pessoas não entendem que arte não é para todo mundo porque boa parte de nós queremos participar de alguma coisa. Somando isso com a nossa insaciável curiosidade, a maioria se frustra quando não consegue se conectar com algo e acaba revertendo ao discurso de “é uma bosta”, quando na verdade é mais um “EU estou puto porque EU não consigo entender isso”.
Não, "isso" só não é para você. Saber reconhecer uma arte bem feita e reconhecer que não foi feito para você é algo difícil. E nem quero insinuar que eu dominei essa virtude, muito longe disso, ainda me frustro, mais do que eu gostaria, com coisas que não entendo. Mas eu fico feliz de, por vezes, perceber o mérito de uma coisa que eu não gostei ou não consigo criar uma conexão profunda.
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Sabe qual episódio final de um desenho animado mais me marcou na infância e adolescência? Hora de Aventura. Não porque é uma série muito profunda e bem escrita (por vezes é, outras nem tanto), mas porque seu final acaba com muitas de suas milhares sub narrativas sem conclusão. Porque assim é a vida, não há créditos ou finais felizes permanentes. Ela continua acontecendo e tudo que podemos fazer é continuar vivendo, da melhor forma que pudermos. Isso foi muito importante para mim na época, quando eu sentia que desenhos animados eram a minha vida, porque só neles eu encontrava algum conforto. E, recentemente, me encontro em épocas de complicações emocionais e o impulso do escapismo está voltando. Mas essa lição de Hora de Aventura ainda me ajuda seguir em frente, de certa forma.
Tenho certeza que nem todo mundo ficou satisfeito ou interpretou o final dessa forma, mas é este significado que eu escolhi carregar comigo. Pendleton provavelmente tinha uma visão ao que eu interpretei similar ao conceitualizar esse final e eu, com certeza, era o público alvo. Obrigado por ter proporcionado isso.
Histórias, músicas, imagens, desenhos e arte no geral tem uma importância inquantificável. E mesmo que eu nunca consiga realizar algum sonho ou expressar o que sinto na mesma maestria de quem marcou minha vida permanente mente, fico feliz de estar tentando. Quem sabe eu consiga construir uma relação melhor com as histórias que eu vivo e conto. E quem sabe eu consiga transformar elas em algo que transmita ainda melhor essa amalgama de sentimentos que vive dentro de mim.