Um janeiro de pixel art e muito tesão
ALERTA DE GATILHO: Um dos jogos mencionados aborda assuntos de abuso psicológico e físico. Eu também falo sobre transfobia internalizada e sexualidade.
O ano de 2025 começou comigo zerando 2 jogos em pixel art e uma visual novel que vai ficar na minha cabeça por um tempo. Eu escrevi sobre os jogos de pixel art no Backloggd, mas me sinto confortável em ir mais afundo aqui. Malcatra's Maiden é uma obra bem particular, que só tenho coragem de escrever algo sobre ela nesse blog escondido no cantinho da internet.
É o meu Metal Slug favorito só por causa dos aliens e zumbis? Sim... Mas também é um dos melhores e mais memoráveis de todos da saga. A arte é linda e as músicas são ótimas, como todo bom Metal Slug. E só tem 1 chefe que eu achei mais chato, que deixa bem escancarado que esse jogo foi feito pra devorar fichas no fliperama, e o último trecho da última fase é desnecessariamente longo.
Claro, eu nunca tive que ter essa dor de cabeça com fichas, eu joguei ele no meu ps2 em um disco pirateado com a coletânea dos Metal Slugs do 1 até o 6. Mas não acho que jogo essa saga pela dificuldade, só acho a arte muito bonita e a música legalzinha. Meu cérebro de "adolescente" de 10 anos se amarrava com os aliens, robôs gigantes e zumbis.
Não que eu ainda não goste dessas coisa hoje
Não é o melhor Metal Slug, tecnicamente falando, mas foda-se eu amo esse joguinho! É uma das poucas coisas que gosto de lembrar da minha infância.
Esse eu não tive coragem de admitir ao mundo (backloggd e bluesky) de que joguei. É porque ele é um jogo horny para caralho? Sim, com certeza. Mas ele dói de um jeito que não consigo esquecer. Além da protagonista ser transfem com mommy issues.
Essa arrombada escreveu esse jogo para mim?
Spoilers daqui para frente.
Malcatra's Maiden é uma novela visual. Ou seja, é mais uma história interativa do que um jogo tradicional. Ela aborda temas fortes de abuso psicológico, sexual e MUITO tesão autodestrutivo. Não sei se vale a pena descrever tudo o que acontece. As personagens são empregadas de uma mulher ultra rica, que também abusa delas como uma líder carismática de uma seita. Não tem um final feliz. É um ciclo de abuso sem fim e o jogo conseguiu transmitir muito bem a dor e confusão que é ficar presa num ambiente desses, onde você sabe que tem algo errado, mas tá todo mundo tão perdido quanto você.
Mas o que não sai da minha cabeça é o fato da protagonista ter vergonha na sua atração por Malcatra (a filha da puta titular), que sabe desse sentimentos e usa deles para manipular a gente. E, pela personagem ser trans também, eu consegui me identificar porque:
- A personagem se odeia profundamente pelos seus sentimentos e fetiches
- Eu não só sinto o mesmo do que ela, em relação à minha sexualidade, mas também sinto o mesmo desgosto em me enxergar como uma mulher trans
Tipo, eu não objetivamente odeio ser trans. Mas é o jeito que uma transfobia interna misturada com baixíssima autoestima se manifesta. É tóxico, autodestrivo e provavelmente vai me levar a ter uma vida miserável se eu não fizer nada para mudar isso. Igual eu vi acontecer com a Liliana, que termina a história destruída e questionando se realmente vale a pena continuar esse ciclo. Só que por não ter uma rede de apoio, ela volta à mesma rotina de merda e achando que tá tudo bem, é para as coisas serem assim naturalmente.
Será que se eu tivesse jogando uma visual novel do meu conflito interno, agora, eu sentiria a mesma dor e pena de mim mesma igual senti de Liliana?
Fim dos spoilers.
Olha, um final feliz! UNSIGHTED me surpreendeu bastante. Eu ultimamente tenho ficado de saco cheio de metroidvanias, mas uma história de robôs lésbicas (acho que estou enxergando um padrão...), o fim do mundo e uma jogabilidade boa me prenderam demais.
No final, a história não é nada surpreendente e talvez meio sem sal, mas boa o suficiente pra eu pensar "que jogo bão"! Ele não se destaca apenas por ser feito por duas brasilerias fodas, mas por ser um metroidvania incrível! O que é raro.
Nesse mundo, todos os personagens estão com as horas contadas para morrer e a mecânica de tempo para os NPCs é uma coisa que pode atrapalhar alguns de explorar o jogo de forma confortável, já que você está sempre contra o relógio. Mas eu gostei da tensão a mais que o jogo te dá, até me lembra um pouco da mecânica de Majora's Mask, só que sem o benefício de resetar o timer.
E você pode desativar o timer quando quiser sem ser penalizado de qualquer forma. Até porque não tem nenhuma conquista para salvar todos os autômatos, então nem dá para reclamar disso. Eu mesma desliguei essa mecânica para não perder mais uma personagem tentando derrotar o chefe final.
Em resumo, 2025 está sendo uma mistura de "AAAAAAAAAAAAAA", tesão frustrado e alguns momentos legais. Acho que Malcatra's Maiden vai ser o que mais vai deixar uma marca em mim, ainda penso sobre a história desse jogo, sendo que zerei ele em um dia faz uma semana.